Carpideiras: uma tradição transformada em ofício

O choro e o lamento sempre fizeram parte dos rituais fúnebres de diversas culturas ao longo da história.

No entanto, um costume que se destaca, atravessando épocas e sociedades, é a presença das carpideiras: uma tradição transformada em ofício.

Essas mulheres, contratadas para chorar nos velórios e cortejos, têm desempenhado um papel fundamental nos rituais de despedida, proporcionando conforto aos enlutados e solenidade ao momento.

Origem Histórica das Carpideiras

A prática das carpideiras remonta à Antiguidade, sendo registrada em civilizações como a Egípcia, Grega e Romana.

Naquela época, acreditava-se que quanto mais intenso fosse o lamento, maior seria a honra do falecido.

As mulheres eram treinadas para expressar dor de maneira teatral, ampliando o impacto emocional da cerimônia. Em culturas orientais e no mundo árabe, a figura das carpideiras também esteve presente, consolidando-se como parte essencial dos rituais de luto.

A Presença das Carpideiras no Brasil

No Brasil, a tradição foi trazida pelos colonizadores portugueses e encontrou terreno fértil nas regiões interioranas, principalmente no Nordeste, onde os ritos fúnebres costumam ser marcados por fortes manifestações emocionais.

As carpideiras atuavam em velórios e cortejos fúnebres, entoando lamentos e cantigas, muitas vezes de cunho religioso, para ajudar a guiar a alma do falecido ao descanso eterno.

Do Ritual Antigo ao Ofício Profissional

Com a modernização das práticas funerárias e a mudança na relação da sociedade com a morte, as carpideiras passaram a atuar de forma profissional, sendo contratadas por famílias que desejam manter a tradição ou proporcionar um adeus mais emotivo. Essa nova abordagem transformou um costume histórico em um ofício remunerado, exigindo das profissionais habilidades como atuação convincente, empatia e respeito ao momento do luto.

Como Funciona a Contratação das Carpideiras na Atualidade

Atualmente, empresas especializadas oferecem serviços de carpideiras para velórios, disponibilizando diferentes formatos de atuação, desde o lamento tradicional até intervenções mais discretas. A contratação pode ocorrer através de:

  • Agências funerárias que oferecem o serviço como parte do pacote fúnebre;
  • Profissionais autônomas que divulgam seus serviços nas redes sociais e boca a boca;
  • Grupos de performance, que resgatam a tradição com elementos artísticos e culturais.
  • Plataformas digitais, onde é possível contratar o serviço de carpideiras de forma personalizada;
  • Cerimonialistas funerários, que incluem carpideiras como parte do planejamento de homenagens personalizadas;
  • Empresas de eventos fúnebres, que oferecem um serviço completo de despedida, incluindo a presença de carpideiras.
  • Associações culturais e grupos folclóricos, que preservam a tradição e oferecem profissionais treinadas para diferentes tipos de cerimônias;
  • Redes de apoio ao luto, que podem indicar carpideiras como parte do acolhimento emocional às famílias;
  • Empresas especializadas em homenagens póstumas, que organizam rituais personalizados incluindo a atuação de carpideiras.

Em alguns casos, os serviços são personalizados conforme a religião e os costumes da família enlutada. Algumas carpideiras são treinadas para adaptar seu trabalho a diferentes credos, tornando-se uma presença respeitosa e inclusiva nos velórios.

Carpideiras ao Redor do Mundo

A tradição das carpideiras não se limitou ao mundo ocidental. Em diversas culturas, o lamento ritualizado se manifestou de maneiras distintas:

  • China: No passado, famílias ricas contratavam “pranteadoras profissionais” para demonstrar publicamente sua dor. Algumas ainda atuam em funerais mais tradicionais no interior do país.
  • Índia: Em algumas regiões, mulheres eram pagas para lamentar de forma intensa durante cerimônias fúnebres, especialmente em castas específicas.
  • Japão: No período feudal, era comum que viúvas e cortesãs assumissem o papel de carpideiras em rituais de cremação.
  • Itália: As “prefiche” do sul do país, especialmente na Sicília, desempenharam esse papel até meados do século XX, entoando cânticos melancólicos.
  • México: A tradição do lamento fúnebre influenciou elementos do “Día de los Muertos”, preservando a teatralidade na despedida dos mortos.
  • Oriente Médio: Culturas árabes e persas mantiveram a prática das pranteadoras, muitas vezes ligadas a rituais religiosos e familiares.
  • Grécia: Até os dias de hoje, em algumas ilhas gregas, mulheres mais velhas são responsáveis por entoar cantos fúnebres, mantendo a tradição viva.
  • Romênia: As “bocitoare” são mulheres contratadas para entoar lamentos fúnebres durante os funerais, especialmente em áreas rurais.
  • Bulgária: No passado, as “plačkarki” eram figuras essenciais em rituais de despedida, ajudando a comunidade a expressar sua dor.
  • Espanha: Em algumas regiões, principalmente na Galícia e Andaluzia, as “lloronas” desempenhavam um papel semelhante ao das carpideiras tradicionais.
  • Nigéria: Entre algumas etnias, como os Igbo e os Yoruba, as pranteadoras eram contratadas para amplificar o pesar da família do falecido.

A Presença das Carpideiras no Brasil

No Brasil, a tradição foi trazida pelos colonizadores portugueses e encontrou terreno fértil nas regiões interioranas, principalmente no Nordeste, onde os ritos fúnebres costumam ser marcados por fortes manifestações emocionais.

As carpideiras atuavam em velórios e cortejos fúnebres, entoando lamentos e cantigas, muitas vezes de cunho religioso, para ajudar a guiar a alma do falecido ao descanso eterno.

Além das lamentações, algumas carpideiras brasileiras também entoavam rezas e benditos, trazendo um aspecto espiritual à cerimônia. Em algumas regiões do interior do Brasil, as velhas carpideiras eram figuras conhecidas e respeitadas, sendo chamadas carinhosamente pelas famílias para cumprir esse ritual de despedida.

O Impacto Cultural e Psicológico das Carpideiras

O papel das carpideiras vai além do choro performático. Elas ajudam a canalizar a dor dos enlutados, proporcionando uma expressão coletiva do sofrimento. Muitas famílias, especialmente em regiões onde a cultura do lamento ainda é forte, acreditam que a presença dessas mulheres torna a despedida mais respeitosa e solene.

Psicologicamente, o luto compartilhado pode ajudar os familiares a processar a perda de forma mais natural, permitindo que expressem suas emoções sem receios. Em algumas culturas, onde demonstrar tristeza publicamente é visto como fraqueza, as carpideiras desempenham um papel essencial ao manifestar a dor em nome dos enlutados.

As Carpideiras e o Futuro do Ofício

Com as mudanças sociais e a digitalização dos ritos funerários, surgem novas abordagens para esse ofício.

Algumas carpideiras começaram a atuar em cerimônias transmitidas ao vivo, permitindo que familiares distantes acompanhem o momento de despedida.

Além disso, grupos culturais e acadêmicos têm estudado essa tradição como patrimônio imaterial, buscando formas de preservá-la no mundo moderno.

As carpideiras: uma tradição transformada em ofício representam um elo entre o passado e o presente, mantendo viva uma prática ancestral adaptada às novas realidades.

Seja como elemento cultural, suporte emocional ou serviço profissional, sua presença nos rituais fúnebres segue desempenhando um papel significativo na forma como as sociedades lidam com a despedida e o luto.

Ao mesmo tempo em que a prática evolui, sua essência permanece: dar voz à dor e dignidade ao adeus.

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